sábado, 1 de dezembro de 2012

Quando queremos fugir da realidade..



Todos os dias, às 6h da manhã, com o sol já aparecendo na janela do quarto, o despertador de Manuel o indicava que era a hora de se levantar para mais um dia de sua rotina. Olhava para o lado e via Luiza, sua noiva, ainda sonolenta, com os olhos meio fechados, meio abertos, uma preguiça bonita de se ver. Se não tivesse que se levantar, ele ficaria horas ali, ao seu lado na cama, apenas observando-a. Olhava para cada traço de seu rosto e para cada contorno de seu corpo. Traços e contornos que o encantavam e o seduziam.

 - Fique só mais um pouquinho aqui comigo. – Disse Luiza, abrindo os olhos, com uma voz encantadoramente rouca de quem acabou de acordar.

Manuel silenciou por alguns segundos, abraçou e deu-lhe um beijo de bom dia. Ficou pensativo, buscou o que dizer, balbuciou com as palavras.

- Não posso meu amor, embora quisesse. Você sabe que se chego mais uma vez atrasado ao trabalho, me demitem e – parou as palavras por alguns segundos - Como viveremos sem ele?

 Manuel e Luiza, embora não sejam casados, vivem juntos há um pouco mais de sete anos. Ele a conheceu ainda na Faculdade, quando tinha a sua bandinha de Rock – em diminutivo, pois era assim que se referia Luiza à banda antes dos dois engatarem um namoro. Manuel acredita que foi esse diminutivo o grande motivo para os dois começarem o romance. Uma vez na faculdade, depois de um dos shows de sua banda, ouviu Luiza comentando com uma amiga sobre o concerto. Ela usou tantas vezes a palavra “bandinha” que Manuel ficou irritado a ponto de perguntá-la o motivo pelo qual se referia assim. Isso foi apenas mais um truque de Luiza, pois sabia perfeitamente que o vocalista da banda a estava escutando e sua provocação foi toda feita de ato pensando, afinal, aquele rapaz de cabelos revoltos em cima do palco chamou sua atenção e ela não poderia negar.

Depois de esse dia, os dois nunca mais ficaram longe um do outro. Sempre juntos na faculdade, nos bares, nos shows. Após estar formado em Economia e Luiza em Artes, resolveram viver juntos, ainda sem pensar em casamento. Manuel seguia com os shows de sua banda, porém a cada semestre um membro abandonava esse sonho. Apenas vivendo de shows não era suficiente para ter estabilidade na sua vida e, tendo a certeza disso, Manuel teve que se desfazer também desse sonho.

Depois de um ano, conseguiu um emprego em uma empresa de investimentos. Trabalhava de 8 da manhã até às 5 da tarde. Uma carga de trabalho intensa. Era formado em economia, porém não gostava sequer de números. Queria viver de música e fazer dela a sua vida, mas a realidade dos fatos não o deixou.

Desde então, sempre as seis manhã, quando ouvia o despertador, não sabia se se desesperava ou se sorria. O único momento que o deixava feliz, tirando todos aqueles que estava ao lado de Luiza, era quando estava embaixo da ducha, tendo a liberdade de cantar para si mesmo e para a vida.
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