sábado, 6 de outubro de 2012

Ao contrário



Começou com umas apresentações, um boa-noite e um "Eu sou Murilo...". Tão pouco se falaram, perguntaram as idades, o que faziam da vida. Apenas o nome bastara naquele momento. Principalmente porque Clara não tinha nenhuma intenção, nem o achara o cara que mudaria sua vida. Não naquela noite que começou sem sentido e terminou também. Uma noite sem dar um "até logo" ou um "foi um prazer conhecê-la", ou, ainda, "me passa o número do seu celular ou o seu nome do Facebook?". Nada disso. E se estressar para quê? - pensou a menina.

Chegou em casa as 4 da manhã. Foi uma noite legal, com pessoas legais, num lugar legal, com um final nem tão legal assim...mas, tudo bem, nada como o término de uma noite e o início de um dia. Entretanto, no dia seguinte o rumo da história mudou completamente (ou quase completamente). Um nome, uns abraços e um até logo não dito não podem revelar muito sobre uma pessoa. Também não se conhece mais depois de outra festa, outro abraço, mais um silêncio e um até logo interrompido. Clara continuou a não se importar tanto, a não se queixar tanto, a não esperar tanto. Melhor assim, pensou.

Mais alguns dias, mais algumas conversas, sem abraços, sem contato, sem olhares cruzados. Como mudou? Por que se importou? Por que esperou? Simples, ela conheceu Murilo ao contrário. Primeiro veio o abraço, o contato, o beijo, mas todos de um anônimo, uma pessoa que desconhecia. E depois passou a se encantar com os detalhes, com as frases, com a exposição diferente de falar sobre o "ser", com a forma simples de falar sobre amor. 


Clara pensa: "Agora não seria o momento."


Pensar:


"A análise constante das nossas sensações cria 
modo novo de sentir, que parece artificial a quem analise só com a inteligência, que não com a própria sensação."

"Sou em grande parte, a mesma prosa que escrevo. Desenrolo-me em períodos e parágrafos, faço-me pontuações, e, na distribuição desencadeada das imagens, visto-me, como as crianças de rei com papel de jornal, ou, no modo como faço ritmo de uma série de palavras, me touco, como os loucos, de flores secas que continuam vivas nos meus sonhos."

Fernando Pessoa


Continue lendo...